27 de abril de 2016

OS ALUNOS


Dizia um antigo professor meu que felizmente os alunos não envelhecem nunca. Assim parece, realmente. Ao passo que nós, como toda a gente, vamos mostrando cada vez mais a idade, temos sempre alunos jovens à nossa frente, como se o tempo não passasse por eles. Ano após ano conhecemos turmas novas, cheias de caras frescas como alfaces:



O meu professor tinha razão. Uma das coisas boas da nossa profissão é lidarmos com gente jovem e saudável. Em princípio, claro. Não lidamos com a doença, como os médicos e os enfermeiros, nem com o conflito, como os advogados e os juízes, nem com a burocracia, como os funcionários e os técnicos. É claro que, por vezes, também nos deparamos com casos de doença, conflito e (é certo) uma boa dose de burocracia. Mas não é essa a natureza do que fazemos. Cabe-nos ensinar e acompanhar pessoas na flor da idade, que querem aprender, fazer coisas, "começar" a vida – e este impulso de renovação e recomeço consegue contagiar-nos. Os alunos são sempre diferentes, claro, a cada semestre que passa, mas na memória acumulada e confundida ano após ano, é como se fossem sempre os mesmos, imutáveis, sempre jovens. Sempre com 20 anos... Por isso, a Alexandra, o Tiago e a Joana – alunos meus que tento retratar acima – representam, apesar de únicos e irrepetíveis na sua individualidade, essa essência de juventude que aos meus olhos continuamente se repete e eterniza.

16 comentários:

  1. Confirmo. Também sou professora e considero um privilégio conviver com a energia e os sonhos dos jovens. Só é pena a energia às vezes ser demais. :)

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    1. Bem visto, Margarida. Energia em excesso pode tornar-se um problema. :)

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  2. era bom era.
    vou no segundo mestrado e já pareço a minha avó :D

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    1. Que exagero!
      (Mas eu só disse que "parecia" que os alunos não envelheciam, eheh!)

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  3. Motivação bem expressa no desenho. Um belo texto que é uma grande forma de motivação para quem é professor. Respeito muito a vossa profissão.

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    1. Obrigada, Henrique!
      Pessoalmente, nunca me faltou motivação para o ensino, apesar de nenhum mundo ser perfeito...

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  4. Gosto imenso do desenho! Mas o texto trás muito sentimento. Parabéns!

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  5. Gosto bastante da forma como capta as pessoas.
    :)

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  6. Que belo post Miú! E o desenho, tão expressivo...Estás de parabéns

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  7. Eu não sou professora mas voltei a ser aluna. A grande maioria tem 18, 19 anos ou pouco mais. A idade da minha filha Marta. Pelos olhos deles vejo muitas coisas que agora percebo serem de uma geração e não exclusivamente da personalidade da minha adolescente privada. Encontro-lhes defeitos é certo, mas a parte positiva sobrepõe-se com grande vantagem. Não posso deixar de lhes admirar a juventude, a energia com que defendem as suas razões, e sobretudo a coragem de dizerem o que lhes vai na alma sem filtros. Acho que esta última é capaz de ser mesmo aquela a que dou mais valor neste momento. A mim faz-me optimamente os momentos que passo com eles. Recomendo ... :)

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    1. É exactamente isso, Paula. Encontramos-lhes defeitos, sim, mas a força e a coragem (essa espécie de frontalidade ingénua) da juventude têm um encanto quase magnético. E lidar com os alunos ajuda-nos a compreender melhor os nossos filhos, e a ver que muitos dos "tiques" deles são de facto geracionais, ou grupais. Mas aquela chama de vida é genuína e independente.
      E tens razão: voltar aos bancos da escola pode ser muito enriquecedor. Já professora, também o fiz quando tirei o mestrado, e foi engraçado trocar de papéis novamente.

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  8. Un nuevo ejemplo de lo bien que dibujas las figuras humanas!!
    Un abrazo.

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    1. Gracias, Joshemari! Lo intento, lo intento! :)
      Um abraço

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