Já tinha aqui escrito que, depois do falecimento do Jacinto, o meu canário despenteado, estava com ânsias de adoptar um novo pássaro (leia-se "comprar", já que não conheço onde se adoptem pássaros). Pois bem, eis o Óscar:
É um psitacídeo, um Pyrrhura Hypoxantha, de flancos amarelos sob as asas, oriundo do sudoeste do Brasil. Bastou-me vê-lo na loja de animais, de olho vivo e cabecinha levantada, fazendo-se ao cumprimento, que logo percebi que tinha de ser aquele. Não era o mais bonito, longe disso: havia lá outros com plumagens bem mais coloridas e poupas bem mais majestosas, mas eram apáticos e indiferentes. Também não era o mais económico: outros papagaios mais vistosos eram mais baratos. E também não era, decididamente, o de maior porte: digamos que ao pé de outros parecia um mini-papagaio. Mas este, com a sua cabecita escura, as enormes pálpebras brancas, tipo palhaço, e os olhos bojudos com ângulo (dir-se-ia) de 360º, tipo camaleão, fez-me rir. E a forma como me olhou nos olhos abanando o bico enorme para cima e para baixo derreteu-me o coração. Veio logo comigo para casa. E, em casa, depressa começámos a fazer concorrência aos piratas:
Pois é, de papagaio ao ombro! Na verdade, não tardou muito a que o habituasse a ser mansinho. No início,
apanhei umas boas bicadas, que me ficavam cravadas nos dedos depois dos meus guinchos agudos. Mas usando da velha técnica de lhe dar guloseimas (ou seja, sementes de girassol) quando o tirava da gaiola, logo passou a ser mais simpático e comedido. Em pouco tempo começou a subir-me para o dedo, e depois para o ombro, por iniciativa dele. Agora, as especialidades do Óscar são tentar comer-me os brincos, catar-me o cabelo e exigir carradas de atenção:
Felizmente, a gaiola que lhe comprei tem uma "varanda", ou seja, uma das paredes abre-se e permite que ele fique livre, sendo-me também mais fácil pegar-lhe. Tornou-se um mimalho de primeira, fechando os olhos e eriçando as penas do pescoço quando lhe dou beijinhos e faço mimos de esquimó...