Que nome insólito para uma pontezinha tão prazenteira! Algures na zona mais a leste de Veneza, no "Sestiere di Castello" (Bairro de Castello) encontrei esta ponte — mais uma, de entre tantas! — que quis desenhar, sobretudo pela estranheza toponímica. Tem o típico tijiolinho debruado a mármore e, como todas as pontes da cidade, degraus e o vão arqueado. Ostenta ainda grades de ferro e, em seu redor, perfilam-se prédios de tons pastel, que aqui ficaram vivos demais. Numa placa, o nome em letras maiúsculas não deixa margem para dúvidas:
Esta não é a única ponte na Lagoa de Veneza a ter este nome, dir-se-ia que amaldiçoado. Em Torcello, uma ilha situada ao norte que não visitei, existe uma ponte homónima, bem mais célebre e antiga, sem grades nem proteções laterais, cuja lenda — essa sim — se pode rastrear. Diz-se, pois, que uma rapariga veneziana, tomada de amores por um oficial austríaco, entretanto morto em combate, consultou uma bruxa para reaver o amado. A bruxa fez um pacto com o diabo, para que este restituísse o jovem oficial à veneziana em troco das almas de sete crianças cristãs. O casal viu-se reunido e foi feliz, mas o diabo nada recebeu como pagamento. Reza a lenda que, irado, o diabo passou a vir todos os anos, a 24 de dezembro, reclamar a dívida à ponte com o seu nome, em Torcello, sob a forma de gato preto...
Não sabemos se esta outra ponte, a do Sestiere di Castello, está de alguma forma ligada à lenda de Torcello. A sua beleza e encanto parecem desmenti-la. Mas o nome está lá...