25 de fevereiro de 2015

E O MAR LÁ AO FUNDO...


Quem conhece a Foz, no Porto, conhece também a Rua de Diu, que desce perpendicularmente à linha da costa até à Rua da Srª da Luz, no início da Av. do Brasil. Neste desenho, feito num dia cinzento de Janeiro a ameaçar chuva, vê-se um aglomerado de prédios - antigos e modernos - à esquerda e, lá ao fundo, o mar. Fi-lo de dentro do carro, onde, abrigada do vento, me pude deter com mais conforto a captar o momento:


Desta vez voltei às linhas a lápis, aguareladas mais tarde em casa. Mas não registei os passos do processo, pelo que deixo aqui apenas o produto final:


Até breve!

23 de fevereiro de 2015

ENCONTRO EM SERRALVES


Pois eu não perdi o 5º Encontro dos USkPN este sábado no Porto. E que bom foi conhecer algumas das pessoas que partilham o mesmo gosto pelos rabiscos e tintas! Da parte da manhã, estivemos no museu. Por muito fã que eu seja do local - e das suas linhas "Siza", puras e serenas - a verdade é que, para desenhar e sobretudo aguarelar, aquilo é tudo menos fácil! Para começar, a luz: sendo tanto zenital (do tecto) como multilateral (surgindo de todas as paredes), origina sombras que ou se cruzam ou se anulam, complicadas ainda mais pela luz artificial, vinda de frestas insuspeitas, muitas vezes do chão. E as cores? Branco sobre branco - o mais difícil de captar. Se juntarmos a isto linhas assimétricas e oblíquas, temos receita para desaire de sketching... Bem, mas "para a frente que atrás vem gente"! As minhas obras-primas começaram logo no átrio:


Esta espécie de árvore-de-natal de ferro velho, da autoria da polaca Monika Sosnowska, ocupava o centro da sala, sob a clarabóia gigante, elevando-se acima do primeiro andar. Sentei-me na escada e dali captei alguns visitantes-barra-zombies... Aqui, pelo menos, os frisos de mármore "marfil" davam a possibilidade dos beges! 

De seguida, desci até ao piso do fundo, com amplas aberturas para o jardim. Apanhei ali o Fábio, sentado à chinês com o bloco no joelho, e imitei-o. As plantas que aqui vêem eram artificiais e moviam-se sob o efeito de uma célula sensível ao movimento. As pessoas aproximavam-se e as plantas começavam a abanar como se estivessem ao vento. Escusado será dizer que os miúdos, aos saltos, provocavam autênticos vendavais. Este foi também o único esboço que pintei in situ:


Por fim, parei na sala da rampa. E tive a sorte de ter sido autorizada a sentar-me na cadeira da vigilante! Um luxo. A instalação era um conjunto de pedras talhadas, amontoadas ao acaso. Fizeram-me lembrar o episódio (comentado nos telejornais) daquela instalação que uma empregada de limpeza destruiu pensando tratar-se de restos de obra... A janela central é, ela própria, um quadro:


Da parte da tarde, jardins. São lindos de morrer, os jardins de Serralves, mas o tempo não esteve pelos ajustes. Depois deste esboço da fachada da Casa Rosa, começou a chuviscar... E ficou por aqui o meu labor de desenhadora. As cores de aguarela, essas, já foram adicionadas em casa:


Vamos ficar à espera de mais encontros! Para já fica o registo, pela lente do Abnose, da minha "chã" pessoa em Serralves, apanhada em pleno exercício destrut- , perdão, criativo:



20 de fevereiro de 2015

AS CORES DA RIBEIRA


No meu regresso de Madrid, a primeira coisa que me apeteceu desenhar foi o Porto - em particular, a Ribeira. Estava um dia de Janeiro glorioso, com um sol que aquecia a pele e fazia vibrar as cores do casario junto ao rio. O enquadramento era exigente, com muita informação, muitas linhas em conflito e um ponto de vista muito baixo, sem esquecer dois carros e pessoas que passavam. O esboço ficou bastante "pessoal" (eufemismo para "torto"), mas aqui o deixo como tributo a esse lado tão castiço do Porto...


Eis as várias fases de aguarelagem do desenho:



Pousados os pincéis, ficou assim:


Até breve, Ribeira!



19 de fevereiro de 2015

MISSÃO IMPOSSÍVEL: AUTO-RETRATO A AGUARELA


Missão "impossível", entenda-se, para mim, pobre aprendiz que vou avançando, sem aconselhamento, por tentativa e erro - e, no caso vertente, mais erro do que acerto... Bom, mas já que o meu anterior auto-retrato (que aparecia no meu perfil do blogue e do Facebook) era consensualmente irreconhecível, lá lancei mãos à obra para tentar criar um que tivesse um pouco mais de parecença com a minha fronha, perdão, com o meu belo rosto. O desenho a grafite não saiu mal de todo...


Depois é que foi o busílis: as cores. Comecei pelo menos difícil, o cabelo, passando em camadas sucessivas do estádio "loira espampanante" para o de "vulgar de Lineu meridional":


E só depois me lancei à pele. Como é sabido, a pele humana é difícil de representar pictoricamente. Tem muitas tonalidades, é translúcida e presta-se a sombras pesadas e tons pastosos. No caso do óleo, existem cores pré-feitas ("skin tint") que facilitam muito o trabalho, mas no caso da aguarela, tanto quanto sei, não há cores de pele "prontas-a-usar". Usei carmim e amarelo-ocre, com alguns vestígios de "sienna" (mas devia ter sido "umber", talvez, sei lá!) e a coisa foi tropeçando assim:


Conseguido este aspecto de quem sofre de icterícia, avancei alegremente para as cores secundárias. E, como se tivesse sido atingida por uma febre carnavalesca qualquer, eis que usei cores garridas que só visto. Para o cenário, escolhi azul cerúleo em estado puro; para a camisola (que na realidade é cinza antracite) deu-me para usar um laranja festivo:


Achando-me ainda demasiado clara de cabelo, tentei alguns escurecimentos finais e, receosa de estafar ainda mais uma pintura já claramente "overworked", parei por aqui:


Mas vou tentar outros retratos, meus e alheios. Isto há-de ir melhorando! Para já, apesar de tudo, vou usar esta nova imagem no meu perfil. Afinal, submeti-a a uma prova de fogo: perguntei ao meu filho de 4 anos quem era aquela no papel e, bem, ele deu de imediato a resposta correcta! Vitória!

16 de fevereiro de 2015

FERRAMENTA PARA SONHAR: A MINHA ALMOFADA


A minha primeira aguarela de interiores surgiu-me da ideia de desenhar uma ferramenta. Leram bem: uma ferramenta. É que na comunidade Urban Sketchers Portugal de que faço parte foi lançado um desafio para o mês de Fevereiro que consistia em "desenhar o que quer que seja que se considere uma ferramenta". Não me apetecendo desenhar objectos cinzentos ou metálicos, cortantes ou perfuradores, tão severos no seu propósito, tão sisudos na sua eficácia, olhei o termo "ferramenta" com alguma largueza conceptual... A saber: a minha almofada é a ferramenta que me permite conciliar o sono, ou o utensílio sem o qual não consigo realizar o acto de dormir. Aqui está ela:


E aqui estão, mais uma vez, os passos do processo, o mais íntimo que fiz até agora - e um dos mais fluidos e divertidos. Comecei pela parede, num cinza azulado:


Depois, o padrão floral dos reposteiros e o abat-jour pregueado do candeeiro da mesa-de-cabeceira:


Seguiram-se os livros, os reflexos da luz sobre o cadeirão de leitura e, lá fora, os prédios da cidade, espraiada ao longe sob os meus olhos:


Mais uns toques de sombra: sobre os lençóis e sobre a parede...


... E assim ficou. Caso o meu contributo para o Desafio USkP não convença, vou ali aproveitar e dormir uma sesta. Uma sesta de sábado à tarde, com este sol a entrar, em barras horizontais, cálidas, desenhando sonhos sobre uma almofada macia.

11 de fevereiro de 2015

ADEUS, MADRID!


O último desenho que fiz em Madrid durante a minha estadia de três meses correu-me tão bem que me apeteceu deixá-lo assim, sem tintas nem estragos...


É a Praça de Ramales, um pouco acima da zona do Palácio Real. O enfoque foi o belo edifício central, de quatro pisos e um mirante, com uma esplanada na base. Dos transeuntes que passavam, consegui fixar apenas um, que ali aparece apressadamente a cruzar a cena. Mas é claro que as cores falaram mais alto - e lá me pus a aguarelar. Desta vez comecei pelo céu, seguido dos ocres do edifício à direita:


Depois, as fachadas, de alto a baixo:


E os elementos na base do desenho - o pináculo, a marcar o centro da praça, e as árvores:


Por fim, o peão apressado e as sombras, bastante fortes, do sol do fim da manhã:


O resto do desenho deixei-o propositadamente em branco, como uma memória que já começa a evolar-se... Adeus, Madrid, fico-me por aqui!


Desta cidade guardarei sempre com gratidão o ressuscitar da vontade de desenhar que me provocou. Foi ali que recomecei a cultivar este gosto antigo - e fi-lo deambulando, de bloco na mão, pelas ruas da cidade, à caça de imagens que pudesse capturar...

Aqui encerro, pois, este capítulo madrileno. Mas mais desenhos virão!

3 de fevereiro de 2015

EL REAL


Mil e um detalhes neste desenho minucioso e paciente - e, para mal dos meus pecados, mil e uma cores no tratamento final. Ou seja, o oposto do que manda o espírito de síntese e o bom-gosto. Gostei no entanto de guardar esta imagem onde tantas vezes passei nas minhas deambulações madrilenas: a fachada norte do Teatro Real, ou Ópera, mesmo em frente ao Palácio, e junto ao delicioso Café do Oriente:


E lá vieram as cores: os amarelos da fachada ao fundo e os verdes do jardim:


E mais verdes - das sebes. E os rosas das flores nos canteiros (glup, já está a ficar garrido):


E, por fim, o céu e os tons da terra:


Para a próxima, vou ter é de ir a uma "funcción" no El Real, ao invés de me ficar pelo exterior...


Fiquem bem!
Miú